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Zumbi dos Palmares
Esta data foi estabelecida pelo projeto lei número 10.639, no dia 9 de
janeiro de 2003. Foi escolhida a data de 20 de novembro, pois foi neste
dia, no ano de 1695, que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.
A
homenagem a Zumbi foi mais do que justa, pois este personagem histórico
representou a luta do negro contra a escravidão, no período do Brasil
Colonial. Ele morreu em combate, defendendo seu povo e sua comunidade.
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Busto de Zumbi dos Palmares em frente ao Setor de Diversões Sul, em
Brasília.
Zumbi (
União dos Palmares,
1655 —
Viçosa,
20 de novembro de
1695) foi o último dos líderes do
Quilombo dos Palmares.
Etimologia
A palavra
Zumbi,ou "Zambi" vem do termo
zumbe, do idioma africano
quimbundo, e significa,
fantasma,
espectro, alma de pessoa falecida.
[1]
Histórico
O Quilombo dos Palmares -- localizado na atual região de União dos Palmares, Alagoas -- era uma comunidade, um reino (ou república na visão de alguns[quem?]) formado por escravos negros que haviam escapado das fazendas, prisões e senzalas brasileiras. Ele ocupava uma área próxima ao tamanho de Portugal, no atual estado de Alagoas. Naquele momento sua população alcançava por volta de trinta mil pessoas.
Zumbi nasceu em Palmares, Alagoas, livre, no ano de 1655, mas foi capturado e entregue a um missionário português quando tinha aproximadamente seis anos. Batizado 'Francisco', Zumbi recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim, e ajudava diariamente na celebração da missa. Apesar destas tentativas de aculturá-lo, Zumbi escapou em 1670
e, com quinze anos, retornou ao seu local de origem. Zumbi se tornou
conhecido pela sua destreza e astúcia na luta e já era um estrategista
militar respeitável quando chegou aos vinte anos.
Por volta de 1678, o governador da Capitania de Pernambuco cansado do longo conflito com o Quilombo de Palmares, se aproximou do líder de Palmares, Ganga Zumba, com uma oferta de paz. Foi oferecida a liberdade para todos os escravos fugidos se o quilombo se submetesse à autoridade da Coroa Portuguesa;
a proposta foi aceita, mas Zumbi rejeitou a proposta do governador e
desafiou a liderança de Ganga Zumba. Prometendo continuar a resistência
contra a opressão portuguesa, Zumbi tornou-se o novo líder do quilombo
de Palmares.
Quinze anos após Zumbi ter assumido a liderança, o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho
foi chamado para organizar a invasão do quilombo. Em 6 de fevereiro de
1694 a capital de Palmares foi destruída e Zumbi ferido. Apesar de ter
sobrevivido, foi traído por Antonio Soares, e surpreendido pelo capitão Furtado de Mendonça em seu reduto (talvez a Serra Dois Irmãos).
Apunhalado, resiste, mas é morto com 20 guerreiros quase dois anos após
a batalha, em 20 de novembro de 1695. Teve a cabeça cortada, salgada e
levada ao governador Melo e Castro. Em Recife, a cabeça foi exposta em praça pública, visando desmentir a crença da população sobre a lenda da imortalidade de Zumbi.
Em 14 de março de 1696 o governador de Pernambuco Caetano de Melo e Castro escreveu ao Rei: "Determinei
que pusessem sua cabeça em um poste no lugar mais público desta praça,
para satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os
negros que supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal, para que
entendessem que esta empresa acabava de todo com os Palmares."
Polêmicas
Alguns autores levantam a possibilidade de que Zumbi não tenha sido o verdadeiro herói do Quilombo dos Palmares e sim
Ganga-Zumba:
"Os
escravos que se recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos
eram capturados e convertidos em cativos dos quilombos. A luta de
Palmares não era contra a iniquidade desumanizadora da escravidão. Era
apenas recusa da escravidão própria, mas não da escravidão alheia.[...]"[2]
De acordo com José Murilo de Carvalho, em "Cidadania no Brasil" (pag
48), "os quilombos mantinham relações com a sociedade que os cercavam, e
esta sociedade era escravista. No próprio quilombo dos Palmares havia
escravos. Não existiam linhas geográficas separando a escravidão da
liberdade".
Segundo alguns estudiosos Ganga Zumba teria sido assassinado, e os negros de Palmares elevaram Zumbi a categoria de chefe:
"Depois de feitas as pazes em 1678, os negros mataram o rei
Ganga-Zumba, envenenando-o, e Zumbi assumiu o governo e o
comando-em-chefe do Quilombo"[3]
Seu governo também teria sido caracterizado pelo
despotismo:
"Se algum escravo fugia dos Palmares, eram enviados negros no seu
encalço e, se capturado, era executado pela ‘severa justiça’ do
quilombo.
Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história.
Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, lutou pela liberdade
de culto, religião e pratica da cultura africana no Brasil Colonial. O
dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o
território nacional como o Dia da Consciência Negra."[4]
Escravidão no Quilombo dos Palmares
Apesar de Representar uma resistência à escravidão, muitos quilombos
contavam com a escravidão internamente. Esta prática levou vários
teóricos a interpretarem a prática dos quilombos como um conservadorismo
africano, mantendo as diversas classes sociais existentes na África,
incluindo reis, generais e escravos.
[5][6]

Para alguns estudiosos, no entanto, a escravidão nos quilombos não se
assemelhava à escravidão dos brancos sobre os negros, sendo os escravos
considerados como membros das casas dos senhores, aos quais deviam
obediência e respeito.
[7] Semelhante à escravidão entre brancos, comum na Europa na
Alta Idade Média.
[8]
Cronologia
- Mais ou menos em 1600: negros fugidos do trabalho escravo dos engenhos de açúcar, onde hoje são os estados de Pernambuco e Alagoas no Brasil, fundam na serra da Barriga o Quilombo dos Palmares.
A população de Palmares em pouco tempo já contava com mais de 3 mil
habitantes. As principais funções dos quilombos eram a subsistência e a
proteção dos seus habitantes, e eram constantemente atacados por
exércitos e milícias.
- 1630: Começam as invasões holandesas no nordeste brasileiro,
o que desorganiza a produção açucareira e facilita as fugas dos
escravos. Em 1644, houve uma grande tentativa holandesa de aniquilar com
o quilombo de Palmares que, como nas investidas portuguesas anteriores,
foi repelida pelas defesas dos quilombolas.
- 1654: Os holandeses deixam o nordeste brasileiro.
- 1655: Nasce Zumbi, num dos mocambos de Palmares.
- 1670: Ganga Zumba, filho da Princesa Aqualtune, tio de Zumbi, assume a chefia do quilombo, então com mais de trinta mil habitantes.
- 1675: Na luta contra os soldados portugueses comandados pelo
Sargento-mor Manuel Lopes, Zumbi revela-se grande guerreiro e
organizador militar. Neste ano, a tropa portuguesa comandada pelo
Sargento-mor Manuel Lopes, depois de uma batalha sangrenta, ocupa um
mocambo com mais de mil choupanas. Depois de uma retirada de cinco
meses, os negros contra-atacam, entre eles Zumbi com apenas vinte anos
de idade, e após um combate feroz, Manuel Lopes é obrigado a se retirar
para Recife. Palmares se estendia então da margem esquerda do São
Francisco até o Cabo de Santo Agostinho e tinha mais de duzentos
quilômetros de extensão, era uma república com uma rede de onze
mocambos, que se assemelhavam as cidades muradas medievais da Europa,
mas no lugar das pedras haviam paliçadas de madeira. O principal
mocambo, o que foi fundado pelo primeiro grupo de escravos foragidos,
ficava na Serra da Barriga e levava o nome de Cerca do Macaco.
Duas ruas espaçosas com umas 1500 choupanas e uns oito mil habitantes.
Amaro, outro mocambo, tem 5 mil. E há outros, como Sucupira, Tabocas,
Zumbi, Osenga, Acotirene, Danbrapanga, Sabalangá, Andalaquituche.
- 1678: A Pedro de Almeida, governador da capitania de Pernambuco,
mais interessava a submissão do que a destruição de Palmares, após
inúmeros ataques com a destruição e incêndios de mocambos, eles eram
reconstruídos, e passou a ser economicamente desinteressante, os
habitantes dos mocambos faziam esteiras, vassouras, chapéus, cestos e
leques com a palha das palmeiras. E extraiam óleo da noz de palma, as
vestimentas eram feitas das cascas de algumas árvores, produziam
manteiga de coco, plantavam milho, mandioca, legumes, feijão e cana e
comercializavam seus produtos com pequenas povoações vizinhas, de
brancos e mestiços. Sendo assim o governador propôs ao chefe Ganga Zumba
a paz e a alforria para todos os quilombolas de Palmares. Ganga Zumba
aceita, mas Zumbi é contra, não admite que uns negros sejam libertos e
outros continuem escravos. Além do mais eles tinham suas próprias Leis e
Crenças e teriam que abrir mão de sua cultura.
- 1680: Zumbi assume o lugar de Ganga-Zumba em Palmares e comanda a
resistência contra as tropas portuguesas. Ganga Zumba morre assassinado
com veneno.
- 1694: Domingos Jorge Velho e Bernardo Vieira de Melo comandam o ataque final contra a Cerca do Macaco, principal mocambo de Palmares e onde Zumbi nasceu, cercada com três paliçadas
cada uma defendida por mais de 200 homens armados, após 94 anos de
resistência, sucumbiu ao exército português, e embora ferido, Zumbi
consegue fugir.
- 1695, 20 de Novembro: Zumbi, então aos 40 anos, foi traído e denunciado por um antigo companheiro (Antonio Soares), ele é localizado pelo capitão Furtado de Mendonça, preso, tem a cabeça cortada, salgada e levada, com o pênis dentro da boca, ao governador Melo e Castro.[9] Ainda no mesmo ano, D. Pedro II de Portugal premia com 50 mil réis o capitão Furtado de Mendonça por "haver morto e cortado a cabeça do negro dos Palmares do Zumbi".[10]
Tributo
Zumbi é hoje, para determinados segmentos da população brasileira, um símbolo de resistência. Em
1995, a data de sua morte foi adotada como o dia da
Consciência Negra.
Atualmente, o dia
20 de novembro é celebrado como
Dia da Consciência Negra[11].
O dia tem um significado especial para os negros brasileiros que
reverenciam Zumbi como o herói que lutou pela liberdade e como um
símbolo de liberdade.
Hilda Dias dos Santos incentivou a criação do
Memorial Zumbi dos Palmares.
Várias referências nas artes fazem tributo a seu nome:
Genealogia
Árvore genealógica de Zumbi, baseada nas informações do site da
TV Brasil,
[12] em Reginaldo de Souza Santos e em
Décio Freitas:
[14]
Referências
- ↑ Dicionário Kimbundu/Português
- ↑ Martins, José de Souza. Divisões Perigosas, p. 99
- ↑ Carneiro, Edison. O Quilombo dos Palmares, Editora Civilização Brasileira, 3a ed., Rio, 1966, p. 35
- ↑ idem, p. 27
- ↑ Libby, Douglas Cole e Furtado, Júnia Ferreira. Trabalho livre, trabalho escravo: Brasil e Europa, séculos XVIII e XIX. págs. 321-322. Annablume, 2006 - ISBN 8574196274, 9788574196275
- ↑ Libby, Douglas Cole e Furtado, Júnia Ferreira. Trabalho livre, trabalho escravo: Brasil e Europa, séculos XVIII e XIX. págs. 321-322. Annablume, 2006 - ISBN 8574196274, 9788574196275
- ↑ Landmann, Jorge. Tróia Negra. págs. ?-?. Mandarim, 1998 - ISBN 8535400931, 9788535400939
- ↑ Cornwell, Bernard. O Último Reino. págs. ?-?. Record, 2006 - ISBN 8501073520, 9788501073525
- ↑ Zumbi dos Palmares, O Guerreiro da Liberdade. Grandes Personagens da História do Brasil. Museu da Cruzada.
- ↑ "Da invisibilidade à afirmação". Número 27, janeiro/março de 2000. Revista do Legislativo.
- ↑ [1] Lei 12.519, de 10 de novembro de 2011
- ↑ Aqualtune, Semana da Consciência Negra
- ↑ Décio Freitas, Palmares - A Guerra dos Escravos, Edições Graal, 1982
Bibliografia
- CARNEIRO,Edison.O Quilombo dos Palmares, Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 3a ed., 1966, p. 35
- FONSECA Júnior, Eduardo. Zumbi dos Palmares, A História do Brasil que não foi Contada. Rio de Janeiro: Soc. Yorubana Teológica de Cultura Afro-Brasileira, 1988. 465 p.
- FREITAS, Décio. Palmares, a guerra dos escravos. Porto Alegre: Movimento,1973.
- LEAL, I.S. & LEAL, A. (1988). O menino de palmares. Coleção "Jovem do Mundo Todo". Editora Brasiliense. 18ª Edição.
- MARTINS Souza, José.Divisões Perigosas: Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo.Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira,2007 p. 99
- SANTOS, Joel Rufino dos. (1988). Zumbi. Projeto Passo à Frente - Coleção Biografias.Editora Moderna.
- SCISÍNIO, Alaôr Eduardo. Dicionário da escravidão. Rio de Janeiro: Léo Christiano, 1997.
- VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.